segunda-feira, 29 de março de 2010

Da Varzinha até Porto Alegre (Travessia - I)

Surgiu a idéia de velejar da Varzinha (Viamão) até Raia 1 (Porto Alegre), não lembro bem se foi num sábado ou numa sexta. Vamos nessa.
Vai rolar vento?? Qual o percurso?? Acertando os GPS's para todos terem marcado o mesmo ponto crítico do percurso: a Ponta das Desertas (vou ficar devendo as coordenadas). Feito isso, todo mundo pra casa...na outra manhã, carrega equipos, confere salva-vidas, celular vedado, cabo extra, e tocamos de carro até Viamão. Não sei explicar bem a senssação que eu tinha nem meus pensamentos...só sabia que queria ir, e queria muito chegar ao final.
Na chegada, um solzão, protetor solar...e começa a montagem de vela, prancha quilha...a areia da Varzinha ofuscava o olho de tão branquinha. Vento tranquilo, devia ter de 10 a 12 nós. Tudo montado, de long (já pensou se no meio do caminho quebra algo e tenho que passar a noite na beira da praia...pelo menos frio eu não passaria), com 2 sachês de carbo gel...todos os quatro velejadores caçando as velas para proteger os mastros de ficarem forçando naquele sol e CREEEKKK...o mastro do Renato quebrou. PQP...
Olho...ofereço o meu equipo para ele...mas não adianta, a decepção no olhar de todos misturou a drenalina com tristeza. Meu olhar se volta pro Diabo (Fernando), e ele diz : -Vamos Sofia...subo na prancha com uma dor na alma (por%@@@, por que tem que acontecer essas zebras??), começo a orçar e fico cuidando a bússola pra ver se estou indo na direção certa...ia me passando o percurso que visualizei ontem, no mapa. Ops! Procuro o Diabo e o Rogério (mentor da aventura), e eles estão indo para o lado oposto, sem planar...
Planando, planando, orçando bem tranquila comecei a me perguntar se devia continuar ou se devia voltar. Caramba...poderia ser que se os dois velejadores não viessem e eu seguiria sozinha...mas ao mesmo tempo, se eu voltasse a aventura ia água abaixo. E, assim como nos momentos mais importantes e decisivos de minha vida, olhei para a ponta de areia distante a minha frente e disse a mim mesma: - Vou!!! Eles sabem que não vou voltar. E sem olhar mais para trás, segui.
Gente!!! Velejando velejando e a ponta de areia foi se aproximando, parecendo que tinha uma cerca (vários pontos escuros juntos), e a medida que cheguei mais perto...a cerca vôo, hehehehhe, na verdade era  um bando lindo de aves, numa lista de areia que se extendia pelas águas. Cheguei a ponta das desertas...tive que ter um pouco de cuidado com a quilha pois nessa ponta, a profundidade diminuia bastante.
Agora, ao invés de orçar eu passava a arribar par ir em direção de Porto Alegre, e no zig-zag de arriba + jibe, arriba + jibe...a prancha dá um trancão e quase levo uma catapulta. Paro de planar e a prancha fica pesadérrima. Baixo a vela, passo a mão na quilha e acabo retirando um peixe, que fica boiando para trás...devia ter um cardume de peixes por ali, pensei o que seria confirmado mais tarde. Continuo no zig-zag e observando a costa vejo apenas areia,  árvores e alguns morros que vão se definindo a medida que vou arribando. Pontal de Itapuã e o vento simplesmente para...hahaha...lindo o lugar, mas para sair dali levei um bocado de tempo e foi muita energia. O vento voltou de novo (fraco, mas dava pra planar no limite a maior parte do tempo)...via as chaminés do município de Guaiba (que ficam mais ou menos do lado oposto a Raia 1)...sede, muita sede e calor. Ok! Um mergulho pra refrescar e muita água do Guaiba pra matar a sede (alguns devem ficar horrorizados, mas preciso confessar que existe um preconceito enorme que precisa ser revisto quanto ao Rio Guaiba, não tive problema algum de saúde). Continuo a velejar e, logo escuto um chiado de quilha em movimento e com velocidade se aproximando, olho para trás e aparece o Renato. Caramba!! Vocês não imaginam a felicidade de saber que um dos caras em que me inspiro e que ama o windsurf e, talvez, o cara que mais queria este desafio entre nós quatro, conseguiu um mastro e me alcançou!!!! Uhhhhhhhhhhhhuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu!!!
Dali por diante foi mais tranquilo. O Renato contou que tinha levado três ou quatro catapultas no mesmo ponto onde matei um peixe com a quilha...ele acabou pegando os peixes com mais velocidade...Com uma vela maioir ele seguiu em frente enquanto eu ainda padecia um pouco com a falta de vento. Chego na Raia 1 depois de cinco horas na água...quando coloco o pé na terra, a impressão é que eu ainda estava sentindo o movimento continuo das águas...O Renato fez todo percurso em três horas, se eu não me engano e chegou bem antes de mim...o cara é bom mesmo (ou eu que sou muito muito ruimmmmmmmmmmm, hehehehhehehe). Os outros dois velejadores, voltaram de carro por falta de vento.
Das coisas que aprendi nessas quase cinco horas de silêncio, uma em especial me tocou: SEGUIR EM FRENTE E ACREDITAR NO QUE SE AMA!!!
Em vários momentos lembrei de Deus...agradeci muito.
Depois, já no vestiário, olho o celular e vejo que eu não tinha habilitado o chip que coloquei no aparelho mais velhinho (caso eu afogasse outro celular, hehhehe), ou seja fiz toda a travessia sem uma forma de contato...Na próxima tenho que garantir segurança!
Entusiasmo galer@@@@@!!!